Não sei a localização da praia mas sei que por uns tempos fiquei observando pra me certificar: não era rota de barco nenhum. O máximo que eu via era a rota de alguns aviões que eu cheguei até a desenhar mais tarde. Via os aviões no principio e torcia pra que algum voasse baixo e eu pudesse acenar, ver alguém, sair daquilo tudo. Mas o tempo foi passando e eu percebendo que a vida seguia e que as coisas timidamente melhoravam. Desde que naufraguei naquela ilha não passei sequer um dia em silêncio: tentava lembrar as letras das canções que mais gostava, e lá pela segunda semana lembrei de Etta James e de sua "I'd rather be blind" e já comecei a perceber como meu inglês melhorava, porque agora era pra mim e só pra mim, e eu entendia tudo o que queria dizer.
Quando eu vi o jangadeiro solitário, perguntas como "será que ele vem de um barco maior?" ou "será que mora por aqui e costuma chegar até essa praia?" ocuparam minha cabeça e não me deixaram perceber que eu acenava e gritava como um louco. Tenho a impressão de que ele me viu, mas nunca saberei porque quando cogitei a possibilidade, uma espécie de ato reflexo já me fez pular na areia, num nível onde as pedras e a espuma das ondas já faziam toda aquela agitação parecer miragem a qualquer homem do mar. Naquele instante percebi o que estava acontecendo e que já fazia um bom tempo que eu já me fazia acreditar que aquelas luzes brilhantes em movimento no céu eram discos voadores e cantarolava sorrindo, "and the stars look very different today".
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