quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tema: Discos Voadores

Passei anos de minha vida tentando meditar e foi só neste ou naquele dia (se o tempo realmente for relativo) que cheguei mais próximo de tal façanha.
Tendo acordado de um cochilo que durou a tarde inteira, pensei em abrir a janela e saciar aquela curiosidade em saber que cor o céu teria exatamente às seis horas da tarde num dia quente de inverno, como este ou aquele de nossos tempos. Meu corpo não queria fazer grandes esforços e, com um mínimo de movimento possível, empurrei a janela ao lado da cama.
Era um anil fosco, quase roxo, quem sabe ainda, outra cor que só existe em outra língua. Pus os olhos fixos na casa ao lado, cujo nome é varanda - por metonímia.
Era tanto pássaro, tanto, tanto, que meu ouvido se confundiu – e esse momento foi a delícia de só ser. Abarquei outros sons, e caí novamente da corda bamba do não-pensar. Mas que se foda. E eu pensei sobre meus próprios pensamentos, tal qual metalinguagem, enquanto, em paralelo, me admirava o fato de ainda haver sons de crianças pela rua.
Às vezes acho que sou o cara mais novo do mundo. E isso quer dizer que eu tenho medo demais. Medo - medo mesmo - é aquele sinal de que falta algo e que, no final das contas, você pode estar desamparado ou morto. O medo é feito de, pelo menos, duas partes, apoiadas pela idéia de possibilidade. O medo é um triangulo invertido que começa na realidade e termina na imaginação.
Disse alguém lá do outro lado das águas, que navegar era preciso. Disse isso, mas o fez já algum tempo depois das Navegações e um tempo antes de irmos ao espaço. Sei que é tolice dizer que houve qualquer Pessoa sem medo, mas acho que o autor dessa frase só pôde ter dito algo tão perigoso assim, por ter estado num momento em que tudo era centrado demais – não havia mais nada além dos mares e algo além da Terra era muita pretensão.
Além da terra é pretensão demais.
Além da humanidade é pretensão demais. Penso que é preciso voltarmo-nos aos seres humanos para voltarmos a ser humanos – falo isso olhando pros céus, imaginando coisas sobre uma luz mais forte, que é Vênus; e eu sigo cismado com os signos de touro ao meu redor, com as pernas que passam e eu não posso tocar, com esse impulso carnal que é a arte aqui na boca do estômago, com a astrologia, que, diz-se por aí, vem dos céus também. E se não for Vênus e nem verdade?
É aí que surge o medo.
Chega um outro som aos meus ouvidos, desfazem-se o medo do medo e a inquietação borbulhante aqui dentro. Por ora.

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