domingo, 5 de setembro de 2010

Tema: Discos Voadores

Noite, falta de sono, madeira.

Pense em branco. Pense em um espaço branco. Adicione paredes, chão e teto. Cubra as paredes de rachaduras e pó, o chão de tábuas corridas também poeirentas. O teto coberto por telhas, é afastado do fim da parede tornando assim todos os cómodos uma única sala grande separada por divisórias de concreto. Volte sua atenção ao quarto maior, cubra-o de móveis antigos, de madeira pesada e resistente, feito para durar séculos. Os dois sofás velhos encostados na parede, o chão repleto de colchões separados por certa distância uns dos outros. Em um destes ele rola inquieto. Sua boca esta seca e sua cabeça dói, quando acordou, um pouco atordoado, demorou para se dar conta de onde estava. Ao abrir os olhos primeiro viu uma luz branca, rapidamente a vista escureceu e notou manchas que aos poucos se tornaram paredes, chão, teto, rachaduras, tábuas corridas, pó e telhas. O silêncio era composto de sons de insetos, respirações anestesiadas, o vento forte que batia na porta de madeira pesada e resistente feita para durar séculos, e por fim sua dor de cabeça. Seu corpo está coberto de suor, ele está perdendo pelo corpo toda a água que sente falta nos lábios rachados. Está cansado de rolar na cama e de tentar diversas posições para voltar ao sono na esperança de acordar por vez de manhã quando se sentirá melhor. Ele se levanta. Na cozinha escurecida, ele se desloca com dificuldade entre as latas e garrafas vazias espalhadas pelos cantos e centro, tromba em uma cadeira que descansa em um lugar aleatório, não se machuca. Toma um copo de água do galão de vinte litros quente que está na metade. Sua dor de cabeça não melhora e ainda sente sede. Toma outro copo de água. Derrama um pouco de água no chão, mesmo na metade os galões de vinte litros tornam a tarefa de se encher um copo de água muito complexa, estar semi-alcoolizado, com sono e dificuldade de enxergar no escuro não o ajuda. Ele se senta, enterra as mãos no rosto. Está cansado e sente falta de sua cama. O vento fora da casa é forte e intimidador. Exita por um instante, porém decide tomar um ar esperando assim aliviar as dores no corpo e o pensamento. Do lado de fora a paisagem é composta por manchas escuras, sendo possível identificar os objetos apenas por sua forma. Mato, cerca, árvore. Pense em um céu claro, onde se vê sem dificuldade constelações, planetas e uma enorme lua. Quando sua vista acostuma ele nota, que as manchas estão cobertas por uma luz prateada, os objetos estão mais nítidos, quase brilhantes. Mato, cerca, árvore. Olhando para o céu ele é tomado por sentimentos nostálgicos e lembra da sua infância, da sensibilidade que perdeu. Na cidade as pessoas são privadas do céu e dos agrados da natureza. Sem razão, nem rumo, ele começa a caminhar. O vento lhe dá uma boa sensação de frescor. Nota um som estranho, que gradualmente aumenta, é como o barulho do canto das cigarras ampliado centenas de vezes. O vento se torna mais forte e muda de direção. Adrenalina, medo, tensão. Seu corpo se torna novamente coberto por suor, se continuar assim seus lábios novamente irão rachar e sua cabeça voltará a doer. Confuso e assustado ele olha para os lados e não consegue encontrar a casa. A paisagem está ainda mais clara. Ele sente uma força agindo sobre seu corpo, feito estar em uma piscina que está sendo esvaziada. Olha então para cima. Pense em branco.

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