terça-feira, 13 de julho de 2010

Tema: Umbigo

O filho que tive, tive e perdi. Guardei-o com tanto medo no meu quarto, em minha cama, em meus seios, no meu ventre.
Eu o trouxe ao mundo, levei-o a escola, e de volta ao hospital quando adoeceu e, além de tudo, já busquei em festa, chorei na madrugada, padeci no paraíso, como diz o outro.
A cama sempre tava arrumada, a comida eu que fazia, ou quando pude pagar uma empregada, era só o que ele gostava.
Levei pra comprar merendeira, roupa, boné, tênis novo. Dei uma fita cassete de rock. Ele perdeu tudo – na escola, na rua, na casa da namorada...
Eu já passei tanta pomada em peito cheio, em assadura, em espinha. E agüentei tanta noite em branco por conta de leite, ou de doença, ou de festa até tarde.
Eu já mandei não gritar comigo, se impôr pros coleguinhas, obedecer o pai, respeitar os mais velhos, falar o que tava sentindo, pensar antes de falar.
Já ajudei com dor de joelho ralado, de cotovelo, de estômago, de barriga, de cabeça.
Nunca levantei a mão, mas segurava firme sempre que ia atravessar a rua, pra que ele não se perdesse de mim, pra que um carro não o levasse, pra que ele não se esquecesse de continuar e seguisse em frente, adiante, até o outro lado.
Mas o outro lado o levou.
E minhas mãos ficaram vazias e sem poder levantar, assim como meu corpo. A dor foi de uma contusão que nem eu mesma sei onde, mas que parece tortura. A voz sumiu de tanta vontade de gritar. E não tem pomada, nem oito horas de sono pra isso. A cama não fica mais bagunçada e sobra comida- mas eu continuo arrumando os lençóis e servindo o prato. E já me levaram ele – pra me evitar o trabalho de ter de levá-lo a algum lugar, levaram o menino daqui. E eu levei-o ao hospital uma ultima vez.
O filho que tive, tive e perdi. Guardei-o com tanto medo no meu quarto, em minha cama, em meus seios, no meu ventre, que não soube me desgarrar, não soube parir de novo, nem cortar o elo que nos une, e que médico nenhum conseguiu. Mas a vida...

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