Calor
Sinto falta de uma parte de mim. Quando acontece, aliso a barriga, fico inquieto, deito em minha cama e me fecho. Sinto um frio que vem devagar, bem de mansinho, vem rastejando a pele até chegar no osso. Aí eu me escondo debaixo de uma coberta qualquer, e não adianta. Esse frio não se mata com pano, nem mesmo o calor das mulheres que se encontra por aí pode acabar com ele. A pele quente quando roça na outra serve só pra circular o sangue, depois, hora ou outra o frio volta. A saudade desse meu pedaço bate, eu aliso a barriga, ando pra lá e pra cá, e acabo por deitar na cama. Aí já não tem mais jeito, tem que deixar o frio roer o osso mesmo, e ficar quietinho, quietinho esperando o sono vir, as vezes em sonho da pra lembrar daquele calor, do escuro, e como tudo era fácil seguro ali, o conforto enorme de se ficar encolhido, sentindo essa pedaço me ligar ao calor. Aí eu acordo, levanto e vou viver a vida. Vez ou outra o frio volta e me lembra. Sinto falta de uma parte de mim.
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