terça-feira, 29 de junho de 2010

Tema: Frango

Falo em Frango

Quatro ou cinco meses? Acho que nem quatro nem cinco, por aí. Pouco importa, só sei que é mais ou menos esse o tempo que eu não fazia isso. Eu já nem sentia falta. Conforme o tempo passou, menos vontade eu tive, e aos poucos me acostumei com essa ausência. Um dia, ou melhor uma noite, na verdade era madrugada, nem dia nem noite; nesse certo nem dia nem noite eu estava deitado na cama praticando um pouco de insônia. Milhares de pensamentos rodavam na minha cabeça feito canais de televisão sendo passados. De repente me surgiu uma imagem, uma lembrança. Minha boca se encheu d´água e eu fiquei ainda mais inquieto. Tentar dormir se tornou praticamente impossível, já me bastava a falta de sono e agora isso tomava todos os outros pensamentos: alguma lembrança alheia da infância e ave, viajar pra praia no fim do ano e ave, desliguei o computador antes de ir pra cama e ave. Não adiantava mais, podia pensar o que fosse que ela estaria lá. Uma ave miserável ainda por cima. Burra, desajeitada e que nem voar consegue. Cansado de pensar nela resolvi encara-la, fui até a cozinha e abri a geladeira; um queijo velho com aquela casca seca em volta, meia cebola e uma garrafa de vinho com água dentro. Nada de frango. Nem duas horas depois o sol já estava de pé, aceitei o convite e também fiquei. Bastasse a exaustão de uma noite nada dormida, eu ainda não conseguia pensar em mais nada se não em frango. Sabia que enquanto não conseguisse saciar meu desejo eu não ia dormir. Tomei um banho frio, um café aguado e fui pro mercado mais próximo. Devo ter sido o primeiro cliente do dia, comprei um frango congelado e uma barra de manteiga. Corri pra casa, coloquei o maldito no forno de micrroondas, modo descongelar. Quando o tirei de lá estava cru, mas quentinho. Quentinho e macio. Comecei a passar manteiga na parte de dentro daquele pedaço de carne branca e molenga enquanto cantarolava na minha cabeça meu último tango em paris. Passei um longo fio de barbante em volta, apertei com força suficiente para que se ainda tivesse em entranhas os seus órgãos, eles saíriam por todos os orifícios de uma só vez. Dei um nó. Ali na cozinha mesmo, arriei minhas calças e mandei ver, um vai e vem frenético. A vontade acumulada era tão grande que eu terminei o serviço em um par de minutos. Com todo meu corpo relaxado e meus olhos semi abertos eu tirei o barbante e deixei a ave em baixo da água que escorria da torneira por um tempo. Coloquei de volta na geladeira e dormi feito um bebê. Quando acordei já era fim de dia, levei o frango semi congelado em uma embalagem já aberta pra minha vizinha de porta, inventei alguma história qualquer e lhe dei de presente, fui retribuído por um sorriso meio feliz meio desconfiado e um abraço molengo. Pode até parecer errado mas eu tive que dar de presente para alguém, afinal de contas eu não como frango.

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