domingo, 8 de agosto de 2010

Tema: Lady Gaga

Lady Gaga

Dona Íris: To to que que... rendo co co con tar u u u ma ma história pa ra ra vô vô cês, ma ma ta tá difícil. Eu na na nas ci aqui me me mes mo, em Cujubim... Ah Alfre fre do conta pra eles!

Alfredo: Esta é a história de Dona Íris.

Íris, uma doninha que apesar da fala embolada era muito cuidadosa. Tinha uma eterna atenção com suas plantas, suas crianças e a ardósia que cobria o chão da sala. Todos os dias ela acordava, antes do sol; colocava, sempre, o pé direito, e logo em seguida o esquerdo, no par de pantufas que tem o costume de ficar ao lado da cama. Levantava-se, ia até o banheiro, lavava o rosto com sabonete de erva doce, voltava para o quarto e dava um grito, "Jô Jô". Jonas saia da cama, ligeiro, ia até a cozinha para preparar os ovos fritos, sentava-se à mesa e ficava de olho na porta esperando qualquer movimento para, no momento certo, estar com um sorriso firme no rosto.

A vida em Cujubim era assim. Normalmente, todos os maridos ficavam atentos às portas para que não fossem surpreendidos pela chegada inesperada de suas esposas. Nesta cidade, tudo tinha que estar em mais perfeita harmonia, não haviam erros. E se houvessem, todos deveriam fechar seus olhos.

O dia não ia muito além dos ovos fritos e do sorriso teatral no rosto de “Jô Jô”. Depois do lindo café da manhã que o casal vivia toda manhã, era hora de Dona Íris ir até a varanda da casa. A varanda era um cômodo sereno, tranqüilo, onde Dona Íris ficava até o almoço, bordando para os filhos dos seus filhos. A família já tinha atingido aquela proporção em que crianças correm de um lado para o outro da casa. Algumas delas eram até um pouco suspeitas, negrinhas. “Todos eram brancos, quase europeus, porque diabos nasceram crioulos?” De tempos em tempos esse pensamento vinha à cabeça branca de Dona Íris.

“O almoço ta na mesa!” Jonas, que cozinhava muito bem, gritava.

E todos vinham, depressa, experimentar o banquete do patriarca. Cada um tinha o seu lugar na mesa, ninguém ficava de fora e ninguém agia com falta de respeito. Era uma educação quase que francesa, apesar da distância entre a França e Cujubim. Todos tinham modos, e sabiam muito bem como utilizar os talheres. O almoço não se prolongava por muito tempo, de pouco em pouco as licenças eram ditas, e a mesa ia se esvaziando.

À tarde era a vez de Jonas aproveitar a varanda. Pegava o seu jornal e começava pela política. Quando o sol começava a atingir os seus olhos ele já estava no final do caderno de cultura lendo a charge do dia. E ao fim do jornal, como uma extensão de entretenimento, duas mulatas de bom porte desciam a rua, isso era tão diário quanto
a produção do periódico.

Então Jonas encontrava Íris na sala de estar e dizia que estava indo à venda comprar os ovos do dia seguinte.

Íris, não se contentava com o barulho do programa que passava na TV. Aquele era o momento do dia em que ela gostava do silêncio, tinha que estar atenta para a chegada do homem. Como a sua relação com a noite não era tão confortável, ela sempre ia para a cama cedo, e era lá que afloravam seus momentos de angústia a espera de Jonas. Mas ela não permitia que nenhuma asneira tomasse conta de sua mente.

O barulho da porta rangendo.

Jonas finalmente chegava, ia caminhando devagar até o quarto, e quando percebia Íris de olhos abertos, forjava um sorriso firme.

As últimas palavras de Íris eram:

“Bô bô bô bô bô bô bô bô boa noite.”

E Jonas fechava seus olhos.

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